'No "tribunal da internet" não estou ilesa de acusações e de erros.'
- dezembro 03, 2017
- By Danny Mendes
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Os movimentos sociais de alguma forma sempre estiveram presentes na minha vida cotidiana, sendo eu engajada ou não neles. Certamente, em algum momento percebi que estava engajada em uma causa e me vi inclusa em um movimento social, denominado Movimento Negro e consequentemente no Feminismo Negro. Quando percebi que lutaria pelos ideais do movimento negro, me questionei por qual motivo as pessoas se envolvem em causas especificas. Segundo Davis e Zald (2005), uns dos motivos que levam os cidadãos a se envolverem com ações coletivas se deve ao fato destes buscarem desafiar políticas com as quais eles discordam.
Já dentro do movimento negro, busquei compreender, qual o contexto histórico permeava a luta daquele movimento. De acordo com Böhm (2006), os conflitos estão sempre ligados por uma identidade social e histórica com diversas construções, que perpassam os limites locais de tempo e espaço. Deste modo, para compreender os motivos pelos quais os cidadãos negros e não negros do Brasil, se organizaram para lutar contra os processos de exclusão, me fez percorrer um longo caminho na história tanto do Brasil, tanto de outros países que foram colonizados e colonizadores. Desta maneira, compreendi o que Böhm (2006) abarca com o discurso de multiplicidade de lugares, que englobam diversos locais e uma grande diversidade de grupos, indivíduos, comunidades e organizações.
Assimilar todo o contexto histórico que permeia a luta do movimento negro brasileiro, me fez perceber que esta luta é um ato político. Que na visão de Böhm (2006), é uma via que busca uma tentativa de reconciliação, desorganizando realidades e que também se torna uma via de reconstrução de novas, transpassando diferenças e conflitos entre comunidades.
Dentro das diversas possibilidades de atuação no movimento negro, escolhi a que mais me chamou atenção e me dava a possibilidade de ser ouvida pelo maior número de pessoas possíveis. Decidi utilizar a ferramenta que estava a meu alcance no momento. Segundo Davis e Zald (2005), a expansão do sistema econômico global, faz com que os pólos de poder se descoloquem, mantendo ainda no fundo as características de formas de ação organizada.
Decidi então, utilizar a internet para lutar por aquilo que acredito dentro do movimento negro. Uma ação as vezes solitária e emancipatória, pois não tinha nenhuma forma de controle sobre os meus atos, além de pessoas que como eu, utilizam a internet para lutar, e por diversas vezes julgar os atos do outro, no famoso "tribunal da internet".
A internet pode ser compreendida como uma tecnologia de informação e comunicação que segundo Davis e Zald (2005), pode aumentar tanto a velocidade quanto o alcance dos movimentos, se tornando essencial, pois permite além da velocidade de alcance global, customização e flexibilidade se tornando ferramenta útil para os movimentos socais.
Neste período que utilizei a Internet para realizar minha militância, percebi que reproduzimos e criamos verdades a partir de noções próprias. Böhm (2006) utilizando das noções de realidade de Foucault, lembra que quaisquer afirmações de verdade são historicamente produzidas, que provocam formações discursivas que organizam as relações de poder e conhecimento, operando tanto no nível subjetivo quanto no objetivo da realidade.
Busco com o ativismo digital, não criar verdades absolutas, mas criar reflexões a cerca de temas que perpassam minhas vivências. Sempre busco não reproduzir verdades que foram simplesmente contadas, mas investigar na história os acontecimentos que corroboraram para a percepção da realidade atual. Sei que no "tribunal da internet" não estou ilesa de acusações e de erros, mas espero que isto também contribua para que eu desconstrua meus pensamentos colonizados, que perpassam o machismo, racismo, fascismo, moralismo, homofobia, lesbofobia, transfobia, gordofobia, entre outros.
Referências Bibliográficas
BÖHM, S. Depositioning organization: the polities of resistence. In: BÖHM, S. Repositioning organizations theory: impossibilities and strategies. Basingstoke: Palgrave Macmillian, 2006. p. 104-137.
DAVIS, G. F.; ZALD, M. N. Social change, social teory, and the convergence of movements and organizations. In: DAVIS, G. F.; MACADAM, D.; RICHARD, W.; MAYER, S.; ZALD, M. N. (Ed.) Social Movements and organization theory. Cambridge University Press, p. 335-350, 2005.